
Nos anos 80, os bonecos artesanais feitos com bolinhas de gude, durepox e pintados à mão eram muito populares, não apenas como diversão caseira, mas como uma verdadeira oportunidade de negócio para pequenos artesãos. Diferente da ideia de que esses bonecos eram criados pelas próprias crianças, na verdade, a maioria deles era feita por adultos habilidosos que os vendiam em pequenas lojas de bairro ou diretamente para amigos, vizinhos e conhecidos.
Esses bonecos começavam a ser produzidos a partir das bolinhas de gude, que serviam como base para as articulações e extremidades dos personagens. As bolinhas de vidro eram incrivelmente acessíveis e bastante comuns na época, o que as tornava perfeitas para serem usadas nas “juntas” do boneco, como cabeça, mãos e pés. O corpo dos bonecos era moldado com durepox, uma massa epóxi que endurecia após o manuseio, permitindo a criação de formas e detalhes personalizados. Essa combinação de bolinhas de gude e durepox resultava em bonecos articulados, resistentes e altamente personalizáveis.
Esses bonecos, após serem modelados, recebiam um acabamento cuidadoso com pintura, geralmente feita com tintas esmalte ou guache. A pintura dava vida aos bonecos, criando trajes, expressões faciais e até detalhes como armaduras ou roupas de personagens populares da época. Muitos bonecos eram inspirados em ícones da cultura pop dos anos 80, como heróis de filmes de ação e desenhos animados, mas também era comum encontrar criações originais, feitas sob encomenda ou de acordo com as preferências do cliente.
Os artesãos que produziam esses bonecos tinham uma clientela fiel, geralmente formada por crianças e jovens que compravam essas peças em pequenas lojas, feiras ou diretamente da pessoa que fabricava. Embora fossem simples e feitos à mão, esses bonecos tinham um charme único, e a possibilidade de personalização fazia com que cada peça fosse especial. Cada artesão tinha seu estilo, e isso criava uma diversidade enorme de bonecos, desde figuras mais simples até verdadeiras obras de arte.
Em muitos bairros, esses bonecos se tornaram uma febre. Não só porque eram acessíveis em comparação aos brinquedos industrializados, mas também pela originalidade que carregavam. Diferente dos brinquedos de plástico, produzidos em larga escala, esses bonecos artesanais eram únicos. Muitos jovens colecionavam diversos bonecos e faziam trocas com amigos, ampliando suas “coleções” com figuras customizadas e exclusivas. Era comum ver esses bonecos sendo vendidos em pequenas lojas de brinquedos ou bancas de feira, onde artesãos locais expunham seu trabalho.
A venda desses bonecos em pequenas lojas e entre vizinhos consolidou a prática como uma atividade semi-profissional para muitos. Alguns artesãos se tornaram conhecidos no bairro, e até em regiões vizinhas, pela qualidade e pela criatividade de seus bonecos. Para aqueles que não podiam comprar os caros bonecos de ação industrializados, como os da linha Comandos em Ação ou He-Man, os bonecos de bolinhas de gude e durepox eram uma alternativa bem mais acessível e, muitas vezes, ainda mais divertida, já que vinham com um toque de exclusividade e personalização.
Com o tempo, esses bonecos se tornaram também itens colecionáveis, especialmente para os nostálgicos que viveram essa época e têm uma forte ligação com a infância dos anos 80. Hoje, encontrar um desses bonecos em bom estado é difícil, mas quem possui algum guarda uma verdadeira peça de memória afetiva. Existem até colecionadores que buscam por esses exemplares artesanais, reconhecendo o valor cultural e histórico que eles carregam.
Atualmente, esses bonecos ainda podem ser encontrados em feiras de antiguidade e colecionismo, onde aparecem como relíquias daqueles anos de ouro da criatividade popular. O trabalho artesanal envolvido em sua confecção, e a maneira como eles faziam parte da vida de tantas crianças e jovens, faz desses bonecos um símbolo importante de uma época em que o brinquedo não dependia só da tecnologia ou da produção em massa, mas também do talento e da paixão de quem os fazia com as próprias mãos.